Maratonista

Tuesday 16 April 2013

Com o coração em Boston

O Maratonista tem estado "adormecido". Com uma vida muito condicionada devido ao envolvimento noutro tipo de causas, não tenho conseguido dedicar o tempo a este blog e, pior do que isso, nem sequer tenho conseguido manter uma cadência de treinos digna desse nome. Logo que o projecto em que estou envolvido atinja o seu destino, espero recompor a minha organização de vida e voltar às maratonas.

Isso não me impede de hoje vir aqui para expressar a minha revolta por aquilo que aconteceu ontem em Boston. Fazer explodir bombas numa festa que junta pessoas de todo o mundo à volta da corrida, num evento que recebe ricos e pobres, gente letrada ao lado de pessoas sem instrução, jovens e gente mais idosa, todos nas mesmas circunstâncias e a viver um momento de comunhão e partilha é totalmente inaceitável.

Não há justificação que se possa apresentar para este tipo de actos e todos nos devemos unir na condenação, não deixando que o medo que os seus autores pretendem espalhar se apodere de nós. Qualquer um de nós, que gostaria de ter estado em Boston, poderia estar no lugar de quem faleceu ou de quem ficou ferido. É por isso que o meu coração está em Boston, muito especialmente com as vítimas.

Friday 18 January 2013

Lance Armstrong

Até ontem eu acreditava no Pai Natal. Sentia-me feliz com isso, pois tinha na sua figura uma referência, quase um ídolo.

Há uns tempos atrás alguém lançou dúvidas sobre o Pai Natal. Eu defendi-o. Para mim o Pai Natal existia mesmo. Apesar de tudo o que se dizia, eu acreditava mesmo nele e sentia-me feliz com isso.

Hoje estou triste. O Pai Natal disse ontem, de viva voz, que não existe. Estou triste.

Monday 31 December 2012

Um fim de semana de corridas

Que fartote de corridas que aconteceu este fim de semana! É verdade, num ano em que só tinha participado em 4 provas entre o dia 1 de Janeiro e o dia 28 de Dezembro, consegui o feito de aumentar esse número em 50% apenas num único fim de semana!!!!

Tudo isto foi possível pela magia das corridas de S. Silvestre. Este ano o calendário trouxe a S. Silvestre do Porto para meio do mês, o que permitiu que a prova de Santo Tirso tivesse decorrido no passado sábado e que fosse lançada uma nova S. Silvestre, curiosamente na minha terra, em Vila do Conde, que se realizou ontem.

Com este cardápio disponível, não resisti e lá estive nas duas provas em dois dias consecutivos. Curiosamente, acabei por ter desempenhos praticamente idênticos em ambas.

Cheguei a Santo Tirso muito tarde face ao que pretendia, pois, para além de mim, também a minha filha ia correr a prova dos mais jovens. Acabou por não haver grande problema, pois a organização atrasou-se bastante, pelo que tudo se compôs. A Joana correu a sua prova com a habitual determinação, começando muito cautelosamente e acabando em bom ritmo e muito satisfeita, como habitualmente acontece e como deve ser!

Já com um significativo atraso, a prova principal começou de forma atribulada. Não sei se foi a chegada inesperada de uma desagradável chuva a poucos instantes da partida, a verdade é que se instalou uma grande confusão no momento de iniciar a prova. A coluna incluia mais de 1.000 atletas e a organização nãop conseguiu garantir que a partida tivesse sido dada na linha de meta, pois os atletas foram avançando, sem que ninguém impusesse ordem. Creio que o primeiros terão partido mais de 50 metros à frente da linha!!!

Como saí de casa muito atrasado, esqueci-me do relógio, pelo que não tenho referências quanto à minha evolução ao longo da prova. De qualquer forma sinti-me sempre bastante bem e corri num ritmo regular. Na primeira metade da prova havia mais subidas do que descidas e, ao contrário do que costuma acontecer, aguentei-me bem, não perdendo muitas posições. Na segunda parte, já com o percurso mais "amigável", lá consegui um andamento ligeiramente melhor, mas creio que os outros atletas também o conseguiram, pelo que não subi muito na classificação. Acabei a prova com o tempo de 42m41s, em 363º lugar, entre quase 1.200 atletas chegados à meta.

Sem grandes treinos e com algum receio do que seriam as consequências de uma prova na véspera, decidi que iria tentar o melhor possível na prova de ontem, até porque corria em casa! A coluna de atletas era de cerca de metade do dia anterior, o que se notaria a partir de certa altura, em que corriamos já algo espaçados.

Comecei em bom ritmo e fui até metade da prova sempre a correr a ritrmos inferiores a 4:15/km. A minha intenção era "colar" o mais possível aos 4:00/km, mas tinha de o conseguir fazer com algum conforto, pelo que não deu para mais do que isso. Quando chegamos ao ponto de retorno, percebi que as coisas não iriam correr tão bem como desejava, pois fazia-se sentir algum vento contrário que nos haveria de acompanhar praticamente até aos 9 km. Durante esse período o andamento caiu para a casa dos 4:30/km, coisa que afectou praticamente todos os que corriam na mesma parte da coluna que eu, já que fui ultrapassado por alguns, mas também ultrapassei outros. Deve ter mantido a minha posição durante essa fase.

Na parte final, já resguardados do vento, consegui recuperar um pouco e fazer no último o meu quilómetro mais rápido, a um ritmo ligeiramente abaixo dos 4:00/km, o que me permitiu cortar a meta com cerca de 42m30s (não sei o tempo ao certo, pois esqueci-me de parar o relógio ao cortar a meta!!!).

Fiquei muito satisfeito por este dose dupla, que termina o ano em beleza!

Monday 24 December 2012

S. Silvestre do Porto

Este ano corri a S. Silvestre do Porto. Esta prova era uma prova que gostaria de ter aproveitado para superar o meu record, mas a escassez de treinos feitos depois da Maratona não permitiu que conseguisse alcançar esse objectivo.

Numa fase tão atribulada e com tantos afazeres, o dia da prova foi um bom espelho disto tudo. Saí de casa por volta das 11h da manhã com várias actividades para fazer. Consegui fazer tudo, mas:
. nesse dia participei num almoço daqueles em que se come o equivalente às nossas necessidasdes de uma semana inteira (como é óbvio, poupei-me, bastante...);
. cheguei à linha de meta para a prova 5 minutos antes da partida;
. esqueci-me do relógio, pelo que corri sem qualquer referência, o que já não me lembro de ter feito, seja em provas, seja em treinos.

Perante este cenário, o resultado alcançado (42m55s) pode considerar-se excelente! Fiz a prova sempre salvaguadando uma pequena margem de reserva, pois as copnstantes subidas e descidas aconselham alguma prudência. Não sei os andamentos que fui fazendo, mas o resultado final mostra que terei conseguido manter uma boa cadência, aproveitando as descidas e não perdendo em demasia nas subidas.

No final acabei por ficar classificado entre os 600 melhores num total de mais de 4.600 atletas controlados na meta, o que me deixa muito satisfeito.

Agora, seguem-se as S. Silvestre de Santo Tirso (no sábado) e a S. Silvestre da minha terras (Vila do Conde), no domingo!

A todos os meus amigos, um Santo e Feliz Natal!

Tuesday 13 November 2012

O pós-maratona

O período pós-maratona é sempre problemático. Depois de muitas semanas de intensa preparação e de empenho no grande objectivo, depois das ansiedades quanto ao desempenho no dia, da preparação de todos os pormenores, do esforço da prova em si, do sofrimento nos momentos difíceis e das emoções vividas, tudo passa logo que conseguimos interiorizar a concretização do objectivo.

E depois?

Depois há sempre um certo "vazio". Enquanto não definimos outro objectivo que nos faça mover com idêntica dedicação, os treinos acabam por ser encarados de outra forma. Que plano seguimos? Como alcançar a motivação que nos permita "arrancar" o tempo disponível para correr com a mesma regularidade?

Este "vazio" é tanto maior quanto menos experientes somos. Depois da primeira maratona o vazio é enorme. Entre a segunda e a terceira é menor e assim sucessivamente. No meu caso, que já completei cinco maratonas, ele continua a existir. Caso tivesse possibilidades, aproveitaria a boa forma que atingi para fazer a maratona de Lisboa tentando aí corrigir algumas coisas que aconteceram nesta Maratona do Porto. Infelizmente não posso. Aliás, nem sequer vou conseguir correr a Volta a Paranhos que se realiza no mesmo fim de semana.

Por isso mesmo, o que me aconteceu depois do dia 28 de Outubro foi mesmo uma redução praticamente para metade da quantidade de treinos e alguma indefinição quanto aos próximos objectivos.

Neste momento há uma coisa é certa: vou correr a S. Silvestre do Porto e, em princípio, também a de Santo Tirso, prova na qual estabeleci o meu record pessoal dos 10 km. Em função da disponibilidade para treinar (que tende a ser muito menor nos próximos meses), irei tentar cumprir algo que tenho feito desde 2008: fazer, pelo menos, uma maratona por ano.

Monday 5 November 2012

(Ainda) a Maratona do Porto - Algumas conclusões

Pessoais

1.- O resultado alcançado é o segundo melhor das 5 maratonas que conclui. O melhor ainda é aquele que consegui na segunda experiência na distância (em 2009), mas este ficou-lhe bastante perto.
2.- Apesar de não ter batido o meu record pessoal, fiquei muito satisfeito pelo resultado final, pois consegui atingir 3 dos 4 objectivos que tinha: acabei; acabei bem e fiz a segunda metade mais rápida do que a primeira. Para ser perfeito teria de ter baixado das 3h30m!
3.- Gostei muito de preparar esta maratona. Consegui dedicar-me com empenho ao "projecto", senti a minha forma evoluir ao longo dos 3 meses e, no dia, as coisas correram conforme era suposto.
4.- Depois desta experiência bem sucedida, sinto que poderei dar um passo em frente na minha relação com a maratona. Quando voltar a conseguir mobilizar a disponibilidade necesária, tentarei fazer uma preparação ligeiramente mais longa (14 a 16 semanas) e uma gestão da prova de forma mais "normal", ou seja, não me exigindo uma contenção tão grande no início, nem um esforço tão forte na segunda metade.
5.- O apoio do meu irmão durante a prova foi excelente! Para além do conforto de sabermos ter alguém por perto, ajuda muito ter o gel na hora própria e a presença ao nosso lado na fase crítica. Para ele, o meu obrigado!

Sobre a prova em si

6.- A Maratona do Porto é, hoje, mais do que uma mera prova de atletismo. É uma festa com uma vertente desportiva, social e económica fortíssima na cidade do Porto.
7.- Uma das coisas mais notórias neste ano (no ano anterior já se tinha sentido) foi a presença de muitos estrangeiros a correr a prova. É bom para o nosso ego colectivo ver este interesse na "nossa" prova e é bom para a nossa economia.
8.- Tal como tinha previsto no post em que falei do assunto, o novo percurso comprovou ser mais interessante para os atletas. Gostei especialmente de passar pelo "interior" da Ribeira, de não precisar de ir até ao Freixo e de terminar sem o apêndice da ida à Rotunda da Anémona.
9.- Naquilo que me tocou enquanto atleta, a organização esteve excelente. Desde o processo de inscrições, de acompanhamento on-line, da Expo Maratona, da prova em si, tudo me pareceu irrepreensível. Este resultado, num evento desta dimensão merece um forte aplauso, pois só foi conseguido pela existência de uma estrutura competente que o colocou de pé.
10.- Apesar de já começar a haver algum apoio do público concentrado em determinados locais, ainda estamos longe daquilo que seria desejável, que era ter mais gente a aplaudir os atletas. A organização tem feito um grande esforço, com a contratação de bandas, por exemplo, mas há ainda muito caminho a percorrer.

Wednesday 31 October 2012

A minha Maratona do Porto

A participação numa maratona constitui-se sempre como um projecto que requer uma preparação aturada e uma grande focalização. No meu caso particular, que passo por uma fase em que o tempo disponível é muito escasso, a decisão de fazer a maratona foi devidamente ponderada e, uma vez tomada, levou-me a recomeçar a correr com uma periodicidade muito maior do que estava a fazer. Só para terem uma ideia, no total dos primeiros 6 meses do ano não deverei ter corrido muito mais de 300 km…


Como já aqui referi, a preparação correu muito bem. Consegui a motivação suficiente para treinar o volume suficiente para fazer uma boa prova (à minha dimensão, como é óbvio) e sentia-me, por isso, bastante confiante.

Os meus objectivos para esta prova, por ordem decrescente de importância, eram:
- Acabar;
- Acabar bem;
- Fazer a segunda metade mais rápido do que a primeira;
- Conseguir quebrar a barreira das 3h30m.

Para isso defini o seguinte plano de prova:
- Correr os primeiros 15 km à média de 5:15/km;
- Correr à média de 5:00/km entre o 15º e o 25º km;
- Correr à média de 4.45/km a partir do 25º km.

Se conseguisse cumprir este plano tinha a certeza de conseguir alcançar todos os meus objectivos, embora tivesse a noção de que não seria fácil.

Vamos então à prova propriamente dita. Acordei cedo e fui parra o Porto com o meu irmão, que este ano me deu apoio durante a prova, fazendo todo o percurso de bicicleta. Foi uma excelente ajuda!

Logo ao sair de casa constatei que o dia, apesar de estar bonito, nos traria algo pouco agradável: vento. Na verdade, a combinação do frio matinal que já se sente nesta altura do ano com o vento que soprava era uma combinação nada agradável e que, para quem se estava a preparar para correr uma maratona junto à costa, assustava um pouco.

Fiz os últimos preparativos na zona da meta, altura em que cumprimentei alguns amigos (falarei disso noutro post). Quando soou o tiro de partida comecei a minha prova dentro do que tinha definido. Parti ao lado do Fernando Andrade, que me tinha dito no início que não ficaria triste se acabasse até ao tempo de 3h45m, dizendo-me que contava passar à meia maratona em 1h50m, exactamente o meu plano. Lá arranquei com ele, fazendo ao seu lado a subida da Rua Júlio Dinis. Cedo percebo que o Fernando não iria cumprir os seus desejos, pois começou a imprimir um ritmo bem mais rápido.

Determinado em seguir o meu plano à risca, deixei-o ir. Encontro no meio do pelotão o treinador de futebol Domingos Paciência, que seguia ao mesmo ritmo que eu. Deixei-me ir ao seu lado durante alguns metros, mas logo que chegamos à Avenida da Boavista e a estrada começou a descer, ele aumentou o ritmo e, mais uma vez, deixo-o ir e continuo no meu ritmo.

Mesmo com estes cuidados, o primeiro quilómetro foi cumprido em 5:05 e o segundo em 4:55. Insatisfeito comigo próprio, coloco o “pé no travão” e tento ir um pouco mais lento. Nessa altura passa por mim o meu amigo João Andrade, do Rompe Solas, que há dois anos fora incansável no apoio que me deu quando estava em dificuldades. O João estava confiante e disse-lhe que iria andar “devagar”, pelo que também o deixei seguir o seu caminho. O terceiro quilómetro é percorrido a 5:00, ainda assim um pouco mais rápido do que o desejado.

Ao passar em frente ao Estádio do Bessa passa por mim o João Meixedo, que segue também num ritmo mais rápido do que o meu. Saúdo-o e digo-lhe, em jeito de brincadeira, para seguir, que o apanharia mais tarde. Pouco depois disso passa por mim o balão das 3h30m, que seguia com um grande grupo de atletas atrás. Deixei-os passar e continuei no meu ritmo. O quarto quilómetro foi cumprido em 5:09, o quinto em 5:08 e o sexto em 5:02.

Apesar da forte inclinação da descida da Boavista, estava a conseguir controlar razoavelmente o andamento, cumprindo assim o objectivo predefinido. Depois da chegada ao Castelo do queijo e com o percurso a ficar plano, fica mais “fácil” seguir exactamente ao ritmo pré-definido. O sétimo quilómetro já é feito em 5:11, o oitavo em 5:16 e o nono em 5:15.

Entre o nono e o décimo tomo a primeira dose de gel, que o meu irmão me entrega. Nesta fase estamos a percorrer a novidade do percurso, nas ruas de Matosinhos. É um percurso que se faz com facilidade, com a excepção do regresso ao Porto, em que sentimos pela primeira vez os efeitos do vento.

Tendo partido bem na frente, a sensação mais forte que tive nesta primeira fase foi a de me sentir a ser ultrapassado por muitas centenas de atletas. A maior parte seria da Family Race, mas também muito eram maratonistas e julgo que nesta fase da prova não terei ultrapassado ninguém. Com aquilo que classifico de “pensamento de maratonista”, não me preocupava nada com essa torrente de gente que me passava, pois sabia que, na hora da verdade, os papeis iriam inverter-se. Afinal, também eu já tinha feito o papel de muitos desess…

Ao passar no Castelo do Queijo dá-se a separação das “espécies”: maratonistas para a direita e os outros (a malta da Family Race) para a esquerda. Esse momento é sempre marcante e transmite-nos uma saudável sensação de maioridade no mundo da corrida.

O décimo quilómetro cumpre-se em 5:12 o que dá um total de 51m09s para os primeiros 10. Era um pouco mais rápido do que o planeado, mas sempre havia a descida da Boavista para justificar o “incumprimento”, que não me preocupava nada, pois sentia-se muito bem. Nesta fase o vento ia fazendo os seus estragos. O decimo primeiro quilómetro foi cumprido em 5:18, o decimo segundo em 5:10 e o decimo terceiro em 5:16.

Apesar da longa coluna de maratonistas, nunca tive, ao longo de toda a prova, nenhum grupo ou sequer atleta singular que me acompanhasse por muito tempo. Creio que nunca deverei ter seguido mais do que um quilómetro na companhia de ninguém em especial, o que se fica a dever ao facto de ter um plano bem definido a cumprir. Fruto da forte ventania que se sentia de forma especial entre o Passeio Alegre e a Ponte da Arrábida, o decimo quarto quilómetro foi cumprido em 5:19, o decimo quinto em 5:20 e o decimo sexto em 5:16.

Fruto do vento percebi duas coisas. Por um lado houve alguns quilómetros em que tive de despender um pouco mais de esforço do que o esperado para cumprir o plano e por outro não me foi possível baixar o ritmo depois dos 15 km conforme estava previsto. O décimo sétimo foi cumprido em 5:12 e o decimo oitavo, altura em que ingeri o segundo gel, foi feito em 5:24, acabando por ser o pior de toda a prova. A pequena folga que tinha conquistado na descida da Boavista já estava gasta. O décimo nono quilómetro foi cumprido em 5:21 e o vigésimo em 5:19. Já levava 1h44m04 de corrida, o que dá um segundo parcial de 10 km em 52m55s o que confirma os fortes estragos causados pelo vento.

O vigésimo primeiro quilómetro foi cumprido em 5:12 para uma passagem à meia maratona com cerca de 1h49m30s, totalmente dentro dos meus planos. Sentia-me muito bem e com a certeza de que não havia preocupações a ter com o desgaste da primeira metade da prova.

A segunda novidade do percurso, com a passagem pelo coração da Ribeira e a Praça do Cubo animava-me bastante, pois introduzia ainda mais um pouco do pitoresco do Porto na prova. Recordo-me de fazer a subida da Ribeira para a Ponte D. Luís, uma rampa curta, mas muito inclinada, em plena aceleração, tal era a minha confiança nesta fase. O vigésimo segundo quilómetro foi cumprido em 5:14.

A partir do vigésimo terceiro quilómetro, e já sem o efeito do vento, consigo finalmente fazer o aumento de ritmo que tinha planeado. Fi-lo em 5:02 e o vigésimo quarto já é cumprido em 4:46. Estávamos a caminho da Afurada e nesta altura começo a fazer aquilo que já vislumbrava na fase inicial: a ultrapassar mitos atletas que seguiam à minha frente. Tive essa noção de forma muito real em todo o percurso realizado em solo Gaiense. O vigésimo quinto quilometro e o vigésimo sexto foram feitos em 4:52 e o vigésimo sétimo em 4:53. Estava eu a chegar à Afurada e vejo o João Meixedo já de regresso à Ribeira de Gaia, embora a curta distância. Percebi que ia em quebra rapidamente o comprovei, pois não demorou muito a que o tivesse alcançado. Afinal, a brincadeira tinha-se concretizado, a consegui mesmo apanhá-lo!

O vento que se fazia sentir voltou a incomodar bastante no regresso da Afurada, pelo que o quilómetro vinte e oito e vinte e nove foram cumpridos em 4:58 e o trinta em 5:00. Nesta fase levava 2h33m51s de prova e o terceiro parcial de 10 km tinha sido cumprido em 49m45s, um pouco abaixo do desejado. Já tinha tomado o meu terceiro gel e sentia-me bem. Continuava em bom ritmo, a ultrapassar muita gente e mantinha a confiança de que iria acabar bem, embora já tivesse a noção de que seria praticamente impossível acabar com um tempo sub 3h30m. Era um pequeno revés, mas que não me desanimou nada, pois as sensações de corrida eram muito boas.

Depois da Ponte D. Luís temos de fazer uma pequena incursão em direcção ao Freixo para, finalmente, começarmos a correr em direcção à meta. É com essa a força mental transmitida por essa sensação de já estar perto do fim, que faço o trigésimo primeiro quilómetro em 4:51, o trigésimo segundo em 4:57 e o trigésimo terceiro em 4:53. O trigésimo quarto é feito em 4:40 (talvez haja o efeito do túnel da Ribeira no GPS) e o trigésimo quinto em 4:54. Já sentia algum desgaste, mas estava com força nas pernas e não tinha grandes dúvidas de que as coisas iam correr bem.

De há alguns metros a esta parte tinha no meu horizonte o João Andrade, que ficava cada vez mais perto à medida que a prova avançava. Percebi que também ele ia em quebra e, curiosamente, mais ou menos no mesmo local em que, há dois anos atrás, tive de o deixar ir, passei por ele e continuei no meu ritmo em direcção á meta.
Tinha pedido ao meu irmão que me entregasse o último gel entre os 34 e os 35, mas por alguma razão, ele não estava lá, só mo entregando já depois do trigésimo sexto, que foi cumprido em 4:55. O trigésimo sétimo foi cumprido em 4:56 e senti-me um pouco mal do estômago com a toma do último gel, que nem sequer tomei todo. Não sei se por causa disso, mas comecei a sentir dor de burro, o que me incomodou um pouco. Com esforço continuo a marca, conseguindo fazer o trigésimo oitavo quilómetro em 4:57. A dor não desaparece e comprimo a zona abdominal com a mão para tentar aliviar um pouco. O meu irmão diz-me que já se nota que a passada não vai tão solta e só me lembro de lhe responder que já não comandava a máquina: corria em piloto automático e as pernas eram como autómatos que faziam aquilo para o qual estavam programadas!

Era, finalmente, o sinal de uma pequena quebra. Apesar de continuar a ultrapassar muitos, o trigésimo nono já foi cumprido em 5:11 e o quadragésimo em 5:14. Estava com 3h23m18s de prova, o que dá um quarto parcial de 10 km em 49m27s. Estive quase 2 minutos abaixo de pretendido inicialmente, o que não deixa de ser excelente.

Estávamos a chegar novamente ao Castelo do Queijo e a distância para a glória já só dependia da subida da Avenida da Boavista. Apesar da quebra, sentia-me com força para esse pequeno trajecto. Tinha acabado de passar o Luís Sousa Pires, Porto Runners, um conhecido elemento do pelotão maratonista nacional, que seguia visivelmente perturbado por um problema físico. Durante a subida da Avenida da Boavista acabo por passar ainda o Virgílio, do Rompe Solas, um simpático atleta que, aos 58 anos de vida se estreou na maratona. Cheguei a vê-lo à frente do balão das 3:15 a meio da prova, mas também ele pagou o esforço inicial e acabou alguns metros atrás de mim.

O quadragésimo primeiro quilómetro foi cumprido em 5:16 e o quadragésimo segundo em 5:17. Nesta fase os incentivos de quem está junto á meta eram muitos e parece que ganhamos algumas energias extra para galgar os metros finais. Entro na curva que dá acesso ao tapete vermelho da meta e aumento o ritmo como que esboçando um sprint. A minha frente seguia alguém que estava a terminar com os filhos pela mão e sinto que não se justifica o sprint. Espero pela minha vez de cruzar a linha de meta e com o braços no ar, por ter cumprido mais um objectivo, cruzo a linha final e sagro-me maratonista pela quinta vez. O relógio da organização marca 3h35m53s (tempo líquido de 3h35m49s). É a quarta maratona concluída na cidade do Porto e aquela que acabei melhor.

Depois desta prova sinto que já sei dominar a maratona. Sei o que fazer para a preparar e sei como me comportar para a fazer sem sacrifícios desnecessários e potenciando as minhas capacidades do momento.

Custou um pouco mas valeu. Aliás, não me posso queixar de não ter sido avisado, mas nestas coisas somos como as crianças. Aprender requer experimentar e as “cabaçadas na parede” fazem parte de qualquer curva de aprendizagem.
 
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