Tuesday 17 May 2011

Marathon de Blaye - A minha prova (descrição)

A prova tinha cerca de 500 inscritos, pelo que a confusão na partida não era muita. A logistica foi muito simples, pois estava num hotel que distava não mais de 200 metros da linha de meta, pelo que me sentia muito confortável.

À hora da partida decidi situar-me bem atrás, sendo um dos últimos a partir. Às 09.00h lá foi dado o tiro e comecei a prova. O primeiro quilómetro, que incluia uma parte que descia, foi cumprido em ritmo calmo, em 5:37. O pelotão ia animado, com os vários disfarçados a interagir com o público e eu seguia calmamente e a cumprir o pleneado.

O percurso, apesar de não ter montanhas complicadas, era, especialmente na primeira metade, de constante sobe e desce. Não eram subidas muito inclinadas, mas algumas eram longas e custavam um pouco. No ritmo escolhido, sentia-me a correr com muita folga e fiz os primeiros 5 quilómetros em 28m21s, o que dá uma média de cerca de 5:40/km. Pensei que talvez estivesse a andar um pouco acima do que devia, mas a verdade é que a corrida estava a saír muito fácil e a respiração era extremamente calma. Deixei-me seguir assim.

O sexto quilómetro talvez tivesse sido o mais difícil de toda a prova, mas fi-lo com razoável facilidade e à média exacta de 6:00/km. O quilómetro seguinte teve uma descida acentuada e, por isso, acabou por ser dos mais rápidos, sendo cumprido em 5:00 exactos. Fora estes períodos, seguia quase sempre na casa dos 5:40/km, de tal forma que cheguei aos 10 quilómetros com 56m11s de prova.

Ao 9 quilómetros tomei o primeiro gel. Em termos de abastecimento a táctica definida apontava para uma toma a cada 9 km, sendo que o gel dos 27 km era diferente (tinha uma componente forte de magnésio na sua composição).

Como me sentia bem, continuei a prova ao mesmo ritmo, embora com uma ligeira tendência de aceleração. A passagem aos 15 quilómetros é feita com 1h23m33s, o que aponta para um parcial de 5 quilómetros já cumprido perto da média de 5:30/km. Sentia que estava a acelerar um pouco e tentava controlar-me. Lembro-me perfeitamente de ver um ou outro atleta passar por mim e ter a tentação de o acompanhar, mas a verdade é que os deixei ir e continuei, sem qualquer cedência, a minha estratégia.

Aos 16 quilómetros tive o primeiro momento de apoio, com a minha esposa e a minha filha na estrada a gritarem por mim! Que bem que sabe, embora o momento seja sempre curto. Demasiado curto, mas muito motivador.

Nesta fase já rolava quase sempre abaixo de 5:30km, o que me assustava um pouco. Só não me assustava mais porque me sentia mesmo bem. O passagem aos 20 quilómetros aconteceu com 1h49m55s de prova, o que dá um parcial de 5 quilómetros com a média na casa dos 5:20/km, o que era demasiado. A passagem à meia maratona (21 km) acontece com 1h55m24, um tempo que daria para um tempo final entre as 3h50m e as 3h52m, o que já me deixaria satisfeito.

Nesta fase já tinha tomado o segundo gel e sentia-me forte. A respiração estava muito controlada e a parte muscular respondia muito bem. Se assim era, porque razão mudar, pensava eu? Continuei, pois, rolando, até aos 25 quilómetros, sempre entre os 5:20/km e os 5:30/km. Passei os 25 quilómetros em 2h17m13s com bastante fescura e já numa fase da prova em que praticamente ninguém me ultrapassava e em que eu ultrapassava bastante gente.

Ao 27 quilómetros tomei a minha dose de magnésio e continuava em excelente ritmo, registando neste parcial de 5 quilómetros dois em que andei na casa dos 5:15/km. Apesar do andamento demasiado rápido, ao contrário de ficar assustado, começava a ficar cada vez mais confiante, pois sentia-me com força, o que nunca me tinha acontecdio nesta fase da prova nas 3 maratonas anteriores. Cheguei aos 30 quilómetros com 2h44m04s e com a moral elevada.

Depois de passar os 30 quilómetros, e porque me sabia a aumentar o ritmo, tinha o corpo numa espécie de "alerta parmanente". A verdade é que o estado de alerta apenas servia para me injectar ainda mais confiança, pois os quilómetros sucediam-se e as pernas continuavam a responder com a mesma eficácia. Este parcial de 5 foi excelente (5:16 / 5:19 / 5:33 / 5:29 / 5:14) em termos de andamento e mais importante ainda em termos de moralização. A forma como sentia o corpo dava-me quase a certeza, logo ali, de que iria chegar ao fim. Só faltava saber se haveria ainda alguma quebra ou se daria para manter aquele crescendo.

Neste empolgamento decidi antecipar a toma do último gel (dos 36 para os 35) com o objectivo de ganhar alguma energia adicional ou de conseguir disfrutar dela por mais 1 quilómetro! Ao 36 quilometros tenho o segundo momento de apoio familiar. Surpreendentemente, a minha filha quando me vê ao longe, corre na minha direcção para me abraçar. Num gesto espontâneo, decido pegar nela (já tem 22 kg) e, sem parar, corro com ela ao colo durante cerca de 100 metros! Ela agarrava-me com força e eu nem notava que estava a carregar com um peso substâncial que me poderia desgastar excessivamente! Foi um momento fantástico e emotivo! Deixei-a com a minha mulher e continuei. Um pouco à frente dei-me conta da "loucura" que tinha cometido, mas a minha energia era bastante e não me ressenti desse esforço. Este parcial continuou a ser bastante bom (5:08 / 5:30 / 5:21 / 5:06 / 5:14). Cada quilómetro feito depois dos 35 era como que uma vitória, pois a sensação era de estar cada vez mais perto do objectivo. Os 40 quilómetros foram alcançados com 3h37m15s.

Para além do empolgamento cada vez maior de me sentir a correr com força à medida que os quilómetros avançavam, há um outro factor enormemente motivador. É que, depois dos 25 ou, no máximo, dos 30 quilómetros, não houve um único atleta que me ultrapassasse, isto enquanto eu ia passando vários. Muitos, eram os tais que na primeira metade da prova me tinham passado e relativamente a quem eu cheguei a sentir vontade de acompanhar.

Depois dos 40 quilómetros, o percurso já é feito na citadela de Blaye, com a meta por perto. Nessa altura sentia-me veradeiramente satisfeito. A prova iria ser superada e o tempo final ficaria, segurammente, abaixo de 3h50m, o que era bastante bom para as circunstâncias. O meu ritmo manteve-se, sendo o quilómetros 41 cumprido em 5:20 e o 42 em 5:06. Os últimos metros, já em plena recta da meta (a subir) e em cima de um motivador tapete vermelho, foram feitos ao sprint para terminar com 3h48m22s numa explosão de alegria que perdurará por muitos anos na minha memória.

Depois de acabar a prova recebi o apoio da minha família e fiquei no meio dos atletas a desfrutar do momento. Nunca tinha acabado uma maratona com tanta frescura. Nunca tinha saborado o prazer de fazer a segunda metade da prova mais rápido do que a primeira e, acreditem, é realmente fantástico. A sensação de força na parte mais difícil é algo indescritível. É poder, é alegria, é prazer, é único.

Por mais paradoxal que possa ser, esta, que é a maratona em que fiz pior tempo das três que conclui, é, de longe, aquele que mais prazer meu deu!

5 comments:

Maria Sem Frio Nem Casa said...

"...pior tempo das três que conclui, é, de longe, aquele que mais prazer meu deu!"

Isso só prova que tempos e marcas não são sinónimos de absolutamente nada, pelo menos para atletas como nós.

Muito bem, Miguel, parabéns por mais esta Maratona realizada com sucesso e muito prazer!

Um beijinho
Ana Pereira

Outwit the devil rushed! said...

Boas Miguel,


Mais uma vez parabéns... foi óptimo o que viveste.


Rui

MPaiva said...

Ana,

Pelo menos, na maratona, a marca acaba por ser apenas um pormenor menor.

Obrigado pelo apoio!

bjs
MPaiva

MPaiva said...

Rui,

Obrigado pela presença constante e pelo apoio!

abraço
MPaiva

Luísa said...

Parabens Miguel!!

 
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