Voz amiga aconselhou-me a compra da edição de hoje do jornal "A Bola". Eu, que detesto jornais desportivos e que os ignoro voluntariamente, só me deixei convencer quando me disseram que o assunto de interesse tinha a ver com atletismo. "Tem lá uma entrevista com o Jorge Teixeira que vais gostar de ler", disseram-me.
Bom, sendo esse o assunto, lá anui à sugestão e comprei o referido jornal. Só por mero exercício teórico ainda tentei lembrar-me de quando tinha sido a última vez que tinha adquirido um jornal desportivo. Sinceramente não me consegui lembrar, sendo certo que deverá ter sido no século anterior.
Passado a correr as primeiras páginas, que dissecavam até ao enjoo uns jogos de futebol que parece que foram jogados ontem, e coisas tão importantes como os treinos de outras equipas de futebol, lá cheguei à página dedicada ao Jorge Teixeira: uma página inteira num jornal daquela indole! Sim senhora!
Jorge Teixeira, para quem não sabe, é o Director Geral da RunPorto, sendo, nessa qualidade, o organizador de todas as provas de atletismo que se realizam na cidade do Porto, com particular destaque para a Maratona do Porto. Com um largo passado de vida ligado ao atletismo a vários níveis - como atleta, tendo 2h42m na maratona, como responsável por equipas de atletismo e ultimamente como organizador - Jorge Teixeira é um homem em relação ao qual ninguém fica indiferente. Ou se gosta, e geralmente, quem gosta, gosta muito, ou então não se gosta, e neste caso, detesta-se mesmo.
A entrevista d"A Bola" é disso um bom exemplo. O título é, a esse nível, perfeitamente elucidativo: "Gostava de ser conhecido como o Pinto da Costa do Atletismo". Como compreendem, esta frase, ainda para mais num jornal conhecido por ser totalmente desalinhado com as cores do Presidente Portista, tem um impacto brutal.
Para mim, ela simboliza bem a mensagem de toda a entrevista, principalmente se olharmos ao contexto em que ela aparece. Com efeito, ela surge como resposta à pergunta do jornalista, que queria saber se Jorge Teixeira se sente como sendo o Carlos Moia do norte. Inteligente e sagaz como é, Jorge Teixeira teve essa tirada de mestre que foi responder que não. Qual Carlos Moia (personalidade respeitável, certamente, mas cujo nome nada diz às pessoas extra atletismo) qual carapuça, Jorge Teixeira refuta tal comparação, elevando-se a um outro patamar. Ao dizer que gostaria de ser conhecido como o "Pinto da Costa do atletismo", Jorge Teixeira está a:
- Assumir plenamente a sua faceta de polemista, que perante qualquer situação não hesita em afirmar posições, mesmo que isso implique ferir susceptibilidades ou afirmar coisas desagradáveis para outras pessoas. Desde que seja na defesa daquilo que ele entende ser o que tem de ser feito, Jorge Teixeira não tem medo de confrontos. Conhecem alguém no desporto que represente melhor isso do que Pinto da Costa?
- Assumir a sua ambição de grandeza. Quando na pergunta lhe pretendem remeter para um papel circunscrito a uma região, Jorge Teixeira apela a um exemplo de dimensão máxima no seu desporto, dimensão essa que extravasa largamente as fronteiras regionais e mesmo as nacionais. Ora, Jorge Teixeira tem essa mesma ambição. O Porto, onde exerce o grosso da sua actividade actual, é apenas o seu poiso, pois as suas ambições estão a um nível bem mais elevado, como certamente se verá em devido tempo. Conhecem alguém que, sendo do Porto e tendo esse "carimbo", tem um estatuto de nível nacional e internacional?
- Assumir a sua sede de sucesso. Ao comparar-se a Pinto da Costa, que guiou o seu clube aos mais altos patamares de sucesso que é possível conseguir no futebol à escala mundial, Jorge Teixeira está a dizer que também pretende lá chegar. Não sabemos se o irá conseguir, sendo certo que o caminho entretanto trilhado dá boas indicações disso ser possível, como bem demonstra a adesão massiva da população às provas de atletismo por si organizadas. Conhecem alguém que melhor simboliza esta sede de sucesso?
Só por esta entrevista valeu a pena ter comprado o jornal!
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5 comments:
Amigo MPaiva
À parte o futebol e os seus protagonistas, o Jorge Texeira tem sido ele próprio não só pelo trabalho que tem realizado mas também pela luta que tem travado, tendo já encontrado eco em vastos sectores que superentendem a nossa modalidade desportiva e por isso a sua valorização apenas a ele se pode agradecer, quer pela sua visão, quer pela oportunidade que tem revelado sempre que se expressa no seio desta modalidade.
Não li a entrevista mas pelo seu entusiasmo o Atletismo deve ter ganho muitos pontos a um jornal pouco amado no Norte e que só pensa e vive do futebol.
Um abraço
Olá Miguel
todos nós, amantes do atletismo, sabemos e temos consciência (acho eu) o que Jorge Teixeira representa em termos organizativos de provas (o que agradecemos).
Eu até penso que na Invicta se organizam algumas das melhores provas em Portugal, mas também reconheço o trabalho feito pelo Carlos Móia, professor Mário Machado e outros...
Como amante do atletismo não me interessa nada as guerras norte-sul (sejam no futebol, sejam no atletismo) mas sim que existam muitas e boas provas em todo o país, só tenho pena é de não poder ir a mais, sejam em Lisboa, no Porto ou em outros locais.
Quanto ao futebol não aprecio e desde "puto" que nunca gostei de jogar, aquela "cena" de escolher equipa nunca fez o meu estilo, escolher também é excluir...ao invés nas corridas quantos mais melhor e eu tentava puxar alguns dos outros miúdos para irmos correr.
Isto já está a ficar extenso e a desviar-se do tema, fico-me por aqui.
Continuação de boas corridas e bom fim de semana...
Grande abraço,
António
António,
A minha análise foi apenas uma interpretação pessoal quanto ao teor da entrevista e da essencia da mensagem que foi tentada passar.
Quanto ao que dizes, subscrevo a opinião quanto ao mérito de Carlos Moia e outros, sendo muito importante o trabalho que desenvolvem em prol desta modalidade. No entanto, não podemos deixar de reconhecer que uma dose equilibrada de rivalidade até é positiva, pois serve para espicaçar cada uma das organizações a tentar superar-se continuamente. Acho mesmo que é isso que tem acontecido, ficando nós, atletas, a ganhar com a elevação da qualidade das organizações.
Essas coisas só são más quando, como acontece no futebol, se tornam doentias e recorrem a métodos miseráveis.
abraço
MPaiva
Gostei mesmo muito de ler este teu post. O que escreveste acerca dos jornais desportivos poderia perfeitamente ter sido escrito por mim: bate tudo certo.
Quanto ao Jorge Teixeira, não se pode dizer que seja propriamente uma pessoa agradável; não estou no grupo dos que o detestam, nem pouco mais ou menos; mas também não estou seguramente no grupo dos que o adoram: para mim é pura e simplesmente um tipo pouco simpático que organiza, de forma competente mas seguramente não desinteressada, corridas.
Sendo ele do Clube de Veteranos do Porto, são miseráveis os prémio que oferece aos veteranos (quando oferece), sendo que estes constituem o grosso do pelotão (leia-se do dinheiro entrado em inscrições).
Abraço, para ti.
Desculpem a intromissão e a consideração que muitos têm pela amizade... Independentemente em relação ao atletismo, todos nós sabemos que a organização de eventos de atletismo são um negócio que proliferou. Outra coisa que discordo com o texto, no que considero uma homenagem, deixem-me referir que Prova de Atletismo mais antiga da cidade do Porto é Volta a Paranhos e não é organizada pela Runporto. Runporto como todas as empresas fazem do atletismo um negócio. O restante é servirem-se das causas como um chamariz. Está é a minha opinião.
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